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Acabou o prazo, e a floresta?


Acabou ontem o prazo oficial dado pelo governo para a limpeza das matas. Mas o que se limpou? O problema das florestas ficou resolvido ou terão de morrer mais umas centenas de pessoas para que se faça uma verdadeira revolução ecológica, social mas acima de tudo, política  para que o interior não volte a passar pelo flagelo dos incêndios ?




Muito se têm falado acerca do prazo da limpeza, que é curto e que os proprietários não tiveram tempo para resolver o problema mas isto não passa de mais um pretexto para evitar falar do cerne do que nos trouxe até aqui, dezenas de anos de política de centralização, que afastaram o interior ainda mais.

Aqui chegados, os resultados não poderiam ser piores, as perdas humanas foram sem duvida as que mais marcaram, mas são a última das consequências da ordem natural do abandono perpetuado por anos de políticas de desinvestimento em que se perdeu o melhor que tinha o interior, as suas gentes.

Em Vieira do Minho, em Poiares, em Gouveia ou em Oliveira do Bairro as oportunidades não são as mesmas que se tem no litoral, em especial nas grandes cidades do país, com Lisboa como pano de fundo. Lá, no interior, que mais parece outro país, estão pessoas que foram sendo abandonadas, pelo estado social, pelos familiares ou pelo simples facto de amarem as suas terras. As infraestruturas escasseiam, o apoio ao investimento é nulo e a única fonte de rendimento destas pessoas acaba por ser a floresta e os seus recursos. Com a desertificação destas zonas, e o respectivo envelhecimento, as nossas florestas deixaram de ser tratadas, sendo que única forma de as manterem rentáveis é apostando no cultivo de espécies exóticas, como eucalipto.  Podemos censurar quem vive desta actividade, os produtores, os madeireiros e claro o lobby do papel, mas no lugar destas pessoas, acabaríamos por fazer o mesmo, porque sendo abandonados, acaba por ser uma das únicas forma de sobreviver nestas terras.

O estado é que tem de tomar medidas, como é possível que num sítio como Pedrógão estejam a nascer de novo eucaliptos? Não precisamos de datas ou mais legislação de quem nunca esteve no terreno, precisamos de investir nestas terras, criar infraestruturas, emprego e reordenar a florestas. Incentivar os agricultores, consciencializar as populações e trazer pessoas dos grandes centros urbanos para estas terras.

 Para quê limpar, o que não dá para limpar?. Quem semeia ventos colhe tempestades, mas nós por cá é mais, quem planta eucaliptos colhe lavaredas.




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